sábado, 19 de junho de 2010

Um Semi Conto de Aluahara


"...

-Veda-te os olhos e enchergarás mais profundo que a visão de um falcão.

-Tão bela é a superfície, quando ainda lhe és desnecessário enchergar o interior das coisas. Afetam-te as belezas porque vês. Não se apaixonas pelos meus sentimentos, e sim, pela minha carne.

Indagou então o cândido Parkamis:

-Mas diga-me então, como não se apaixonar por ti, que é a mais bela mulher que já passou pela cidade. A melhor dançarina que já vimos sobre os palcos. Todos homens apaixonaram-se por ti. Desde os mais pobres e humildes buscadores de noites de diversão até os mais importantes doutores frequentadores desta casa noturna.

Riu-se e disse Aluahara:

-É fato que o que diz nada têm de verdade. Danço o mundo, danço a vida, a música é minha alma e a dança é a imagem dessa alma. A beleza que vocês dizem apenas serve para ofuscar o meu talento e impedir-me de um dia apaixonar-me verdadeiramente.

-Todos aqui estão cheios por fora e vazios por dentro. Amam por fora e por dentro estão apodrecendo aos poucos. Irei embora esta noite, e amanhã outras dançarinas virão, e vocês já terão um novo amor.

Insistiu Parkamis:

-Oh! Dai-me um beijo então, e mesmo que tudo que digas seja verdade, deixe-me amar-te ao menos essa noite. Para que eu possa no meu crédulo afirmar as mentiras mais saborosas que já proferi.

Aluahara andou lentamente até a porta, virou-se e disse:

-Pare por favor. Estás a degradar o pouco sentido que ainda me resta nessa palavra.

-Um dia beijei um homem, e depois desse dia jamais fui feliz. Esta imagem invade todas as noites os meus sonhos, afastando de mim a paz da inocência que um dia me cercara.

-Torna à tua mesa, embriaga-se, gasta todo o teu dinheiro com mulheres e cigarros e esqueça que estive aqui um dia, assim haverá falsa paz na sua vida, e certamente essa te fará sofrer menos do que um verdadeiro ou falso amor.

-Naquele dia. No meu futuro. Quero apenas reviver aquele momento do passado. Nunca amei, mas certamente aquele beijo foi uma dança. A dança que beirou mais próximo a margem do rio chamado amor.

-Devo despedir-me. Minha esperança desfalece com o tic-tac do relógio. Tornas à tua mesa, pois seu copo já está tão vazio quanto este coração.

..."

Trecho de um conto perdido.

5 comentários:

  1. Estou te seguindo!!!

    Um abração Rapah!!

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  2. Um copo tão vazio quanto um coração.

    :)

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  3. briaaaan, que lindo conto. Pode deixar que to te seguindo também. beijinho =)

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  4. Adorei o conto... Lindo demais... Beijos, Bel.

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  5. Este é um trecho de um conto incompleto de minha autoria.

    Muito obrigado a quem leu e gostou.

    Beijos e abraços.

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